Antonio Francisco Silva Júnior*
Frequentemente ouvimos palavras de ordem do tipo: “Os custos dos estádios brasileiros construídos para a Copa são mais altos do que os das três últimas Copas!”, ou ainda, “Escândalo, estádios superfaturados!”. Na qualidade de cidadãos e de pesquisadores ligados ao tema da eficiência no setor público nos debruçamos sobre os custos efetivos da construção dos estádios brasileiros e realizamos uma comparação com os custos observados para a Copa da Alemanha em 2006.
Para efetuar qualquer análise, alguns cuidados metodológicos são necessários. Ora, como as intervenções realizadas no Brasil foram muito mais expressivas do que as realizadas na Alemanha, que já contava com uma estrutura inicial mais avançada, não é correto comparar os custos totais indiscriminadamente. Dos 12 estádios utilizados no Mundial de 2006, apenas quatro estádios novos foram construídos na Alemanha. No Brasil, também com 12 sedes, verifica-se situação inversa, apenas 2 estádios tiveram “reformas simples” (Beira-Rio e Arena da Baixada). Assim, é preciso o cuidado de comparar projetos relativamente similares. Faz-se mister, igualmente, corrigir as taxas de inflação da Alemanha no período entre a construção dos equipamentos naquele país e dezembro de 2013 (base de comparação), assim como tratar as distorções de câmbio existentes.
Feitos os devidos ajustes, tomemos como referência estádios novos de porte parecido. O estádio de Munique (com 68.000 lugares no Padrão FIFA) apresentou um custo de EUR 5782/assento, ao passo que em Gelsenkirchen (52.000 lugares) o custo por assento foi de EUR 4512. Em São Paulo (também com 68.000 lugares), o custo estimado é de EUR 4330/assento. A Itaipava Arena Fonte Nova apresentou um custo de EUR 4950/assento, valor inferior ao custo observado no estádio de Colônia (EUR 5227/assento), o qual além de apresentar capacidade similar ao estádio baiano também foi objeto de expressiva reformulação. No topo da lista brasileira figuram Brasília (EUR 7000/assento) e Manaus (EUR 5500/assento), ambos construídos pelo regime de investimento completamente público, o que pode ser indicativo de que os estádios construídos sob a modalidade privada ou sob Parceria Publico-Privada (PPP) no Brasil apresentam menores custos por assento.
Os custos totais de estádios no Brasil para a Copa poderiam ser menores? Claro que sim. Bastava diminuir o número de sedes e não atender às pressões políticas locais. Algo simples? Não em uma república federativa e democrática. Mesmo na Alemanha, país com 4% da área do Brasil, observou-se 12 sedes e pressões para contemplar “a diversidade do país”. O caso de Leipizig é emblemático, pois apesar de não ter nenhum clube nas divisões principais e de não apresentar tradição no futebol, a cidade foi escolhida para representar a região onde ficava a antiga Alemanha Oriental. Qualquer semelhança com o Brasil não é mera coincidência. A escolha das cidades sedes não é uma imposição federal e sim o resultado de um processo político que contempla interesses locais. Manaus e Cuiabá, por exemplo, tiveram o apoio de políticos tanto da base de apoio quanto de oposição ao governo federal. A definição de prioridades de investimentos é um debate que deve ser feito pela sociedade e estimulado pelos governos, mas não parece inteligente jogar fora a oportunidade de mostrar ao mundo que o Brasil tem competências, pelo simples desejo de ver as coisas darem errado.
* Doutor em Engenharia de Produção (ITA) e Professor da Escola de Administração da UFBA.
Artigo publicado originalmente em A Tarde, em 9 de abril de 2014