O Tesouro Nacional, mediante colocação de títulos, deve mobilizar os primeiros R$ 15 bilhões que o Governo pretende destinar a um Fundo de infraestrutura a ser repassado pelos bancos privados aos empresários do país e do exterior que o governo espera atrair para os investimentos em concessões federais e em projetos de PPP dos seus entes federados (Estados e municípios).
Como não gera poupança fiscal primária, o governo federal capta a mercado e repassa os recursos a custos menores para a banca privada – assim como faz quando aporta recursos no capital do BNDES e nos demais bancos públicos – esterilizando o diferencial de custos por toda a sociedade.
É um padrão de empoderamento financeiro típico de uma sociedade que valoriza o investimento sem risco – ou com o risco sempre bancado ou assegurado pelo Governo –, a capitalização sem capital, o capitalismo sem capitalistas e o investimento sem investidores.
Enfim, o paraíso dos rentistas e dos agiotas de camisas azuis e camisetas brancas. Afinal, até as captações do Fundo Soberano são feitas soberanamente (sic) sem poupança fiscal, via captação dos recursos entesourados de terceiros pelos rentistas de colarinho branco.
Sobre esses recursos de todos os governados, os bancos privados irão por certo adicionar seus custos de intermediação e suas despesas de operação, afora os spreads (taxas de risco) que considerarem justas (sic) mercê do perfil dos empresários e dos grupos econômicos que tomarem os recursos que repassáveis, após avaliar pelas suas (deles) óticas de rentistas, o risco dos projetos de concessões e PPP em que irão alocar o dinheiro amigo do Tesouro.
Por certo colocarão os resultados em seus balanços sociais, afinal estarão estoicamente contribuindo para o esforço de elevar para até 5% os investimentos em infraestrutura em relação ao PIB, contingência buscada por todos os que auguram o crescimento mais sustentável da economia brasileira.
Nesta toada, é interessante cogitar qual o prêmio de risco que uma sociedade que se pretende inclusiva e abrangente está disposta a pagar pelo capital (de dívidas e de risco) que precisa mobilizar para atingir mais elevados graus de crescimento e desenvolvimento.
Após a corajosa e necessária purgação das regras anacrônicas da poupança, as Famílias (como são chamadas nos manuais de economia as pessoas físicas, os assalariados, os trabalhadores, os dependentes econômicos), recebem um premio de risco para utilizar uma parte de seus rendimentos em poupança.
Levarão, às taxas esterilizadas de poupança vigentes, 14 anos para dobrar o capital que assim amealharem, para comprar seus ativos de uso real e corrente. Estarão sujeitos, como é claro, como quase todos os mortais, aos riscos de conjuntura (de politica econômica), de política partidária, afora os riscos de perder o emprego por obsolescência de suas capacidades laborais, da insolvência de seus empregadores e daí por diante.
Dependem de seus recursos enquanto força de trabalho e irão suprir sua manutenção e reprodução com a renda de seus ganhos (formais ou informais) contando com uma parcelinha dela para gerar a poupança que irão remunerar a 5,075% ao ano, durante 14 anos, para transforma cada real aplicado em R$ 2,0 reais poupados.
Já os empreendedores que decidem empreender na atividade econômica real, criando emprego para as Famílias, mobilizarão seus conhecimentos e o de terceiros (tecnologia) para montar uma planta industrial, de comércio, serviços ou agrícola e agroindustrial – ou até uma planta e concessão ou PPP –, cuja medida de rentabilidade (TIR) se dá entre 8% a 12% ao ano (sem o efeito da alavancagem de recursos de dívida ou de risco que precisem captar de terceiros), o que equivale a quase quintuplicar o capital investido nos mesmos 14 anos que os seus trabalhadores levam para dobrar seu capital poupado.
Também irão correr os riscos de conjuntura, de política partidária, de quebra de fornecedores ou da inadimplência ou da iliquidez dos seus consumidores, afora a obsolescência de sua capacitação empresarial, pela entrada de novas tecnologias ou de competidores de outros países. Mas de qualquer forma, a 12% ao ano durante 14 anos irão gerar R$ 4,89 reais a cada real que conseguiram amealhar neste horizonte temporal.
Já os rentistas criam fundos para financiar (sic) equities ou participações de risco. Nunca com dinheiro próprio, off course – que ninguém é de ferro – mas atravessando a liquidez de terceiros e nunca por menos de 25% ao ano em dólar, para se considerar uma taxinha bem camarada. Quase sempre após quase 12 ou 18 meses de negociações, due diligencies, valuations e outras tantas mandracarias econômicas e jurídicas que se possa imaginar (enquanto a vítima, digo, o captador adianta os gastos com recursos próprios, de bancos, de membros das Famílias de qual afinal faz parte) e para ao final receber metade do que solicitou (pois metade teve que repagar o dinheiro que não tinha) e abrir mão do controle de seu negócio que só gera 12% real de TIR para pagar 25% em dólar aos preclaros rentistas de colarinho branco (ou de camisas azuis e camisetas brancas).
Ou seja, nos mesmos 14 anos, a estas taxas de referencia, o rentista cria R$ 22,73 para cada real que investiu (SIC) em suas carteiras ou portfólios.
Riscos? Se houverem, cabe reassegurar os fluxos ou criar taxas de riscos adicionais de conjuntura, de troca de governos, de mudanças de Lua ou assemelhados.
Falando sério: é este o “premio de risco” que a sociedade está fadada a ter que pagar para assegurar o crescimento inclusivo e sustentado da economia? Onde o risco de atravessar a liquidez equivale, em 14 anos, a mais de 4 vezes e meia o risco de empreender e a mais de 20 vezes o risco de poupar do pequeno poupador?
Ou essa galinha dos ovos de ouro bota ovos que, dentro deles, há muito mais do que claras e gemas de ouro ou muito bem antes do chamado longo prazo (que nunca chegou nem para Keynes) todos nós estaremos devendo aos resseguradores de créditos ou aos fundos que compram créditos podres aos quais nunca fomos apresentados.
E, o pior, com o Estado em default, para pagar os rentistas que também estão na outra ponta da operação, ofertando recursos de terceiros entesourados, sobretaxando as Famílias e os que ainda empreendem apesar dos rentistas e de seus sócios ocultos (ainda que tácitos) do Governo.
Esta estrutura de capitais onde todos ao final são bancados pelo Governo, tem tudo para dar errado.
Se este é “premio de risco” a ser pago, não há TIR de projeto (alavancada ou não) que pague o desaforo de uma expectativa de ganhos tão elevada.
Antes de “importar” capitais e empreendedores, o Governo deveria importar “investidores” que ainda saibam correr riscos, participar dos capitais e dos empreendimentos, e que aceitem ganhar trabalhando e não apenas atravessando a liquidez de terceiros.
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